terça-feira, 6 de julho de 2010

Actos falhados

Dizem os manuais de psicologia que quando o inconsciente ordena as nossas respostas, se assiste a um Acto Falhado. Algo que não sabíamos ou que, simplesmente, não queríamos fazer. O impulso que nos leva a mergulhar de um penhasco, a dizer o nome de uma colega durante o sono ou um adjectivo pouco simpático quando se descreve o chefe. Mas será possível que os actos falhados que, salvo erro, Freud celebrizou nos podem fazer evoluir? Não sei o que dizem os mestres da mente humana, mas garanto que há actos falhados que fazem escola.

Há mais de vinte anos que Waimea Shorebreak engole bodyboarders e os surfistas que por lá passaram fizeram, imediatamente, história. No Bodyboard, recuar vinte anos leva-nos à pré-história. À era dos 360º com mão, dos off the lips, dos tubos intermináveis em Pipeline, mas também a era dos afanados que swell após swell se mandavam às esquerdas de Waimea. Quem surfa em Waimea tem uma certeza: não vai correr bem. Mesmo assim há 20 anos que não falta quem queira voltar a tentar. Acto Falhado?



Depois de assistir a centenas de refeições de Waimea, naturalmente no conforto do sofá, convenci-me que foi ali que nasceu um bicho de que eu nem sou particularmente fã: o aussie. Mestre da onda suicida, viciados em adrenalina e sem grande sentido de autopreservação, mais que nos tubos, nos aéreos ou nas manobras revolucionárias, o aussie elevou o risco do Bodyboard a limites que ainda estão por definir. Sem as velhas VHS dos "vizinhos malucos do mike", King não teria surfado Shipsterns, Hardy não teria domado The Right e o Rawlins, confesso, duvido que alguma vez tivesse nascido.

Não entres. Não remes. Não vás. Recua. Diz que não deu. Pára. Cada vez que um anónimo havaiano contrariava a consciência e o bom senso, o nosso desporto evoluía. A verdade é que esses wipeouts, que só podem ser considerados Actos Falhados, ajudaram a definir a imagem do nosso desporto.

Aos meninos que recusaram o, justificado, apoio psiquiátrico. Aqui fica o meu obrigado.




Bons Tubos

4 comentários:

  1. quem não surfava isto era eu
    isto é insane
    e que aquilo fecha tudo
    grandes suicidas sim senhor
    adorei velos a martelar no reef xD

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  2. adorei o artigo, parabens, os videos postados também sao brutais.

    Em relaçao à questao colocada sobre Waimea Shorebreak, a minha opiniao é a seguinte: nao existe onda melhor no planeta do que Waimea, para treinar um bom drop, a linha de onda e, acima de tudo, o controlo dentro do tubo. Digo isto porque Waimea é uma fechadeira gigante, cavada, e, também importante, quebra sobre um fundo de areia, o que diminui consideravelmente o risco (embora, insisto, eu nao me metesse lá :p). Assim, um rider que aguente o drop de Waimea e esteja habituado a andar dentro do tubo em Waimea entra em Teahuppo ou Pipe (a título de exemplo) muito mais confiante, e em principio poderá disfrutar bastante da surfada nessas ondas.

    JP

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  3. primeiro anónimo, Waimea nao tem reef.

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  4. Segundo anónimo, Waimea TEM reef, mas não no shorebreak. Tem lá fora. Ou seja, têm ambos razão...ou não ;)

    PS: bom post, mano.

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