quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A palavra ao campeão do Mundo




Nasceu na pátria do surf, mas era para os bodyboarders Mike Stewart e Haole Reeves que olhava com admiração e foi com uma das pranchas sem quilhas que começou, na companhia do irmão Dave, a explorar as ondas do arquipélago onde partem as melhores ondas do Mundo. O pai, Marc, passava dias na praia. Surf, bodyboard, bodysurf, mergulho ou a pescar, os tempos livres do patriarca da família eram passados na água e os mais novos apanharam o vicío. Hoje, Jeff é bi-campeão do Mundo de Bodyboard e Dave sagrou-se no ano passado campeão mundial de Drop knee, uma variante do desporto em que os atletas fazem as ondas de joelhos. Até Domingo, estarão os dois em Sintra para a mais antiga e mais bem paga – 47 mil euros de prize money – etapa do Mundial de Bodyboard.
“Do ponto de vista do negócio foi uma má escolha. Hoje seria mais rico se fizesse surf, mas duvido que fosse melhor pessoa. Não conheço nenhum surfista do Mundial que tenha um MBA em gestão e as pessoas que andam no mundo do Bodyboard são mais terra a terra”, diz Hubbard, orgulhoso da opção que fez há mais de 25 anos. Nascido em Oahu, mas com a infância passada na ilha vizinha de Kauai, aos 17 anos voltou à ilha natal e estreou-se em Pipeline, a onda mais concorrida do Mundo. “Foi preciso ir subindo os degraus na hierarquia. Hoje sou amigo de todos os locais, mas há uma hierarquia muito organizada. Seja de bodyboard ou de surf, se não te conhecerem não apanhas ondas”, diz. No entanto, nem mesmo os dois títulos mundiais impedem o bodyboarder de apanhar alguns sustos. “Tenho muito medo de tubarões. Há alturas em que começo a pensar que eles estão perto e se vejo um fujo logo”, reconhece o havaiano para quem as ondas grandes continuam a mercer um cuidado especial. “Quando o mar está enorme, com ondas de mais de cinco metros, mete medo. Mesmo assim, acabo quase sempre por me esquecer do medo e tento qualquer coisa estúpida”, confessa o atleta que se fez conhecido pelos enormes voos que consegue e que tem no air-forward/front flip a sua manobra favorita. Fica a tradução: “No ar, faço um 360º e mortal para a frente antes de aterrar na frente da onda”. Mas esta não é a sua única signature move. Mas afinal como nascem os movimentos que ninguém consegue reproduzir? “Surgem à conversa com amigos e depois vou tentar”, revela.
O “havaiano voador”, como é conhecido entre a comunidade, surfa para repetir o feito do ano passado quando venceu a etapa em Sintra e se sagrou campeão do Mundo. No entanto, sabe que para o ano estão reservadas grandes novidades. “Vamos ter um novo campeonato do Mundo, com etapas nas melhores ondas e eu gostava muito de voltar a ser campeão”, reconhece apontando, no entanto, para a forte possibilidade de este ano o título ficar, pela primeira vez na história, nas mãos de um atleta europeu. “A aposta mais segura é que o título fique com um francês”, diz, referindo-se a Amaury Lavernhe e a Pierre Louis Costes, os dois líderes da classificação Mundial.
“Não preciso de abrir a minha própria empresa. Se tal fosse preciso, saberia como o fazer, mas ganho suficiente dinheiro assim e a minha qualidade de vida é superor. Sou um sortudo”, diz. No entanto, Hubbard sabe melhor que ninguém que o Bodyboard como qualquer desporto precisa de um mercado que o sustente. “No Havai a indústria do surf sufoca o Bodyboard. Os mais novos sabem que eu e o meu irmão somos, mas nós estamos no topo e faltam patrocinadores para os miúdos que estão a começar”. Hoje o epicentro mundial do desporto está na Austrália – onde, diz o campeão, “há mais marketing que dinheiro” – mas a globalização está a chegar. “O desporto tornou-se global. Na Europa e especialmente em Portugal há muita gente a fazer bodyboard. É preciso saber aproveitar e este ano até tenho um novo distribuidor para a minhas pranchas”, congratula-se o atleta que ganha uma percentagem sobre cada um dos seus modelos vendido internacionalmente. “Não sei quantas pranchas se vendem. Só sei o valor em dólares”, confessa, entre sorrisos e sem querer divulgar o número. Uma réplica da prancha campeã do Mundo custa mais de 300 euros e tanto pode ser comprada no Havai, em Portugal, na França ou na Austrália, mas mesmo assim a indústria do bodyboard continua muito longe da realidade dos surf em pé. “Se um dia poderemos chegar ao mesmo nível? Claro. Bastava que o Bill Gates fizesse Bodyboard e decidisse investir 500 mil euros no marketing do desporto. Para o que se gasta, uma ou duas centenas de milhar de dólares, até estamos bem, mas no surf os valores estão em milhões. Não é comparável”.
Para já enquanto espera pelo final da etapa de Sintra para reavaliar as suas hipóteses de revalidar o título, Hubbard confessa um desejo. “Gostava de fazer um filme, mas hoje em dia o mercado dos DVD’s simplesmente não dá dinheiro. Posso apostar em outros meios, por exemplo podcasts, mais baratos e de retorno imediato”. Ficamos à espera.


Bons Tubos

6 comentários:

  1. Excelente post, um reparo Cocas, o dave sagrou-se o ano passado campeão do mundo de dk pela 3ª vez.

    Qt à abrir empresas, é natural q agora se safe melhor, mas a longo prazo acho q é bem pensado.

    Dá o toque ao jeff sff com o meu conselho ;)!!! Abraços

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  2. Ate que enfim começaram a trabalhar...
    Esclarecedor!

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  3. Como te disse em tempos, as entrevistas são para se usar com conta, peso e medida. E esta tem, diria, peso ;)

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  4. Anónimo, faço minhas as tuas palavras. Passa os dias na PG e não traz de lá nem uma reportagem? Qualquer dia está na VERT ...

    Cocas

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  5. Desculpem, ando a curar a ressaca de Verão e a fazer mais contactos.

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