Mas hoje nem é da nossa habitual
choradeira de que falo. Não quero saber da falta da patrocínios, da
inexistência de visibilidade, da falta de portugueses entre a elite do
bodyboard ou do aparente boicote que continuamos a sofrer em alguns meios de
comunicação – já reparam que há um programa na Fuel TV, made in Portugal, que
anuncia notícias de bicicletas e snowboard, mas que nada diz de Bodyboard? – hoje o
assunto é surf. Surf do nosso.
Não perco uma etapa do WCT. Quem
gosta de ondas, gosta de surf, quem gosta de desporto, gosta de ver grandes
atletas e eu nem nunca escondi que me é perfeitamente indiferente se é o Jeff
Hubbard ou o Jordy Smith quem voa por cima de uma bolha. Naturalmente que não
passo madrugadas acordado para ver um Parkinson VS John John Florence, mas
quase … e a possibilidade de ver os heats em directo, full HD e com
comentadores que (realmente) sabem o que dizem e que não perdem tempo com “yewws”
na Fuel TV já me roubou algumas noites.
Assumidamente sem informação privilegiada,
diria que o nosso mundial está em risco. A lógica é tão simples como pura: desde
o ano passado, o investimento tem de ter disparado para atletas e organizadores
e continuo sem ver onde pode estar a conseguir grande retorno. Os sites
internacionais continuam vagarosos, as televisões continuam por conquistar e as
nossas marcas continuam sem arcaboiço para fazer a diferença. Sim, convém
lembrar que a ASP mais não é que um concílio para gerir os Big Four. E não falo
do Slater, do Parko, do Fanning ou do Taj Burrow, mas sim da O’neill, da
Billabong, da Rip Curl e da Quiksilver. Não temos disso entre nós, as nossas
marcas são comparáveis à Sanjo e nem todas juntas chegam perto da dimensão da quarta
maior marca desportiva do Mundo – a do “careca”.
Da preparação dos atletas, à
construção das marcas, aos media, há lições, muitas, a retirar do surf. E esta
semana, apercebi-me de uma do mais insuspeito dos ‘professores’, o Saca. Estou
longe de ser fã, nunca desaproveito uma eliminação precoce para apertar com os
amigos ‘quilhas’ e mesmo quando ganha prefiro dizer que foi sorte. Desta vez
não é possível. Surfando obviamente menos e em ondas pouco acima de miseráveis,
derrotou o Kai Otton, o Owen Wright, o Jordy Smith e só perdeu com a última onda daquele que é um dos meus surfistas favoritos, o Parko. Há uma lição a tirar
daqui.
Às vezes, não é preciso ser o que
mais autocolantes tem na prancha, ser o mais visível ou o mais talentoso. Às
vezes, os adversários podem ser grandes e feios, ser capazes dos mais
inacreditáveis aéreos ou dos tubos mais improváveis (atenção ao tubo do parko,
salvo erro, na final). Às vezes, a garra pode mesmo fazer a diferença e essa
tem sido o segredo para que o Saca se esteja a preparar para quarta temporada
entre os melhores surfistas do Mundo.
Uma lição para boogies, para os
mentores da IBA, para políticos e para nós, os que ganhamos mal, que estamos
desempregados, que não conseguimos trocar de prancha ou alinhar na surf trip de
sonho. Às vezes a garra pode mesmo fazer a diferença. Deve ser por isso que o
Saca é “tigre” num país de PIGS.
Bons tubos
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