Mais cedo ou mais tarde, teria de terminar o melhor mundial de que há memória nos 40 anos do nosso desporto. Com o final chegarão, espero, as garantias de uma próxima época ainda melhor, mais profissional, com webcasts e divulgação afinadas e, se for possível, com melhores ondas e melhores atletas. Mas há um ponto em que é, impossível melhorar: o showdown final. Este ano, o título decide-se na melhor onda do Mundo para bodyboard e na corrida estão só os meus bodyboarders favoritos.
Vejo Hubbard como o melhor do Mundo. Vejo Pierre como o mais sério candidato ao Olimpo a aparecer desde os títulos mundiais do Player. Vejo o Hardy como o equivalente aquático da selecção brasileira de 1982 - nunca mais ninguém jogou futebol assim e duvido que alguém o consiga repetir - e entrego, conscientemente e disposto a defender a opinião, o título de melhor bodyboarder de todos os tempos ao GT.
Dirão, o Hubbard não é o melhor do Mundo. Direi que estão enganados. No nível galáctico a que se disputa o nosso Mundial, o havaiano voador é dos poucos com manobras a que poucos chegam e, arrisco, o único capaz de conseguir notas superiores a 5 com manobras falhadas. Se tem aterrado o reverse em Puerto Rico quanto lhe dariam os juízes? 12? Não bastasse o facto de, afinado, ser virtualmente impossível de derrotar, Hubb vai tentar agarrar o terceiro caneco na onda onde, no ano passado, despachou tudo e todos ainda meio lesionado.
O Pierre tem a moral, a elasticidade e o talento dos grandes campeões. Mas mais que isso, é profissional. Não facilita nas entrevistas, sabe como trabalhar a imagem e na água nunca deixa que o seu nível seja colocado em causa. No arranque da temporada perdeu pontos ao abusar em backflips forçados, mas a forma na recta final não é nada menos que aterradora. Será que consegue virar a tabela e ultrapassar o havaiano voador?
Hardy. Há quem jogue bonito, quem jogue eficaz e até quem jogue feio. Marcações, provocações e dropinanços, vimos de tudo na temporada mais profissional de que há memória no nosso desporto e esse não é o ambiente natural do homem com o bodyboard mais bonito que conheço. Um talento sobrenatural e uma capacidade absurda de encaixar manobras atrás de manobras sem nunca perder a compostura, fazem de Hardy um dos melhores bodyboarders do Mundo. Tal como o Rob Machado, o seu equivalente bípede, Hardy não precisa de títulos mundiais para manter o estatuto e sabe-o melhor que ninguém. Será esse o seu calcanhar de aquiles? Estarei enganado e é no Fronton que se junta ao King e ao Player?
O melhor de sempre. Nasceu numa altura em que Stewart era Rei, em que os mundiais se disputavam quase exclusivamente no quintal do rival e em que os patrocinadores lhe eram pouco simpáticos. Destruiu o "tio", destruiu o Eppo, venceu seis mundiais e terminou outras tantas temporadas em segundo. Mas tem um handicap: é brasileiro, provavelmente a nacionalidade menos "cool" do nosso desporto, a mais sujeita a preconceitos saloios normalmente disparados de nações com bem mais mania que títulos. É capaz de derrotar os três candidatos para juntar mais um título ao currículo? Evidente. Sobretudo quando a final é disputada numa onda onde a coragem, a inconsciência e capacidade de fazer manobras onde todos os outros se encolhem vale pontos. Muitos pontos.
Não sou, honestamente, capaz de escolher um favorito. Diz a aritmética que o Hubbard é favorito e que o PLC está perto. Diz a aritmética que Hardy e GT terão de ter os astros bem alinhados para sair das Canárias com o maior dos canecos da história do nosso desporto. E eu fico num dilema. Se o Hubbard é o melhor do Mundo, o GT o melhor de sempre, o Hardy o dono do Bodyboard mais bonito que alguma vez vi e o PLC o puto que vai carregar o nosso desporto para um novo patamar, porque quem torço? Com a certeza que será impossível entregar mal este caneco, ficarei a torcer pelo nosso Bodyboard.
Deixo-vos com a banda sonora que eu escolheria para o showdown final.
Bons Tubos
Excelente artigo/post "Cocas"... Mesmo no ponto.
ResponderEliminarCumps
Ricardo
Gostei de ler...
ResponderEliminarAo que parece vêm aí swells back to back do quadrante norte e para a recta final um de noroeste. Excluo o hardy pois acho que não aguenta grandes pressões para além do factor vento, que se não estiver de feição será a morte certa do artista. Em condições gigantes, desses 4 sobressaem o gt e o hubb se bem que já se viu tanto o hardy como o plc a meterem-se em situações insanas. O hubb infelizmente parece-me ter explodido muito cedo (pelas alturas do www vindo de uma recuperação quase milagrosa) e agora está a sofrer os efeitos disso. O plc demorou a perceber os parâmetros de julgamento mas vem com a motivação de 2 vitórias seguidas. No fim só se pode dizer, prognósticos só no fim do heat.