quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Carta Aberta ao Paulinho

Começo por pedir desculpa ao Paulo Costa. Se ele tem muitos anos a puxar pelo bodyboard nacional, a abrir caminho para gerações de Pinheiros e Centenos e a forçar o, sempre vagaroso, abrir de olhos dos media nacionais para o nosso desporto, eu - bodyboarder de talento mais que moderado, mas não menos viciado - há muitos anos que o acompanho. Lembro-me de o ver de BZ às cores, lembro-me de ser ele quem me mostrou que os portugueses também dropavam Pipe, lembro-me de há muitos anos me cruzar com ele na minha praia e de ter ganho a surfada quando o "gajo das revistas" me disse: "Boa onda puto". Mesmo que ele não me conheça, eu conheço-o e por isso, esta carta aberta não é ao Paulo Costa, pioneiro, dono de um dos surfs mais bonitos cá do burgo e presidente da Associação Portuguesa de Bodyboard, esta carta aberta é - que me perdoe a familiaridade - ao Paulinho.

Se sempre sofreu de falta ritmo, nos últimos tempos este blog sofreu de um novo mal. O mundo ruiu, faliu às mãos de gente com uma ganância descontrolada que vendeu o que não tinha, comprou o que não existia e que nem tinha como pagar. Durante meses (anos?) fingimos que não víamos o que estava a acontecer, durante meses (décadas) imagina-mo-nos  a crescer, nós portugueses e bodyboarders. Agora, o Mundo ruiu, Portugal fechou e o desfecho de mais esta desventura, nas ondas ou no dia-a-dia, é uma incógnita para todos. Dos mais informados aos mais aluados, não há quem saiba dizer como isto acaba. Hoje, Portugal é um país com três milhões de pobres e eu, mea culpa, deixei de conseguir discutir o desporto de que tanto gosto como se fosse o assunto mais importante da vida. Hoje, Portugal é um país com 20% de desempregados.

Mas há quem insista. Este ano, as meninas oficializaram a ultrapassagem - a Rita Pires que consegue uma divulgação única da modalidade - quantas bodyboarders no Mundo têm um programa de televisão? - e a Catarina Sousa - organizadora e competitiva como poucas - tornaram-se nas principais figuras da modalidade em Portugal. O Miguel Nunes é outro - no panorama actual, ser fotógrafo é uma loucura, mais ainda o é se a especialidade for ondas, e ele não só insiste como ainda consegue brilhar? O Pinheiro e o Centeno - será que alguém em Portugal tem dinheiro para fazer o circuito de qualificação para um mundial tão instável e sombrio como o nosso? Duvido. Mas esses dois insistem, não desaparecem e, melhor ou pior, vão servindo de exemplos para um grupo de loucos que querem fazer vida de um desporto que, tal como o nosso país, nunca foi lucrativo.

Em carta aberta, publicada no Bodyboard.pt, o Paulinho pede ajuda para levar a carroça para a frente. Lamenta as críticas de quem não tardou a lançar as primeiras atoradas sobre a etapa dos Esperanças na Nazaré e de quem pouco faz pela modalidade além de lhe apontar as falhas. Por mim, respondo ao apelo. Paulinho, não contes comigo para ir surfar monstros para a Praia do Norte, nem para mandar tubos em seco nos Coxos, mas apita que estou aqui para ajudar.

É evidente que o circuito nacional está a passar por aperto, que os prémios deviam ser maiores, que as etapas podiam ser outras e que a divulgação e a respectiva qualidade podia ser bem diferente. É evidente que alguém - seja a FPS ou APB - devia garantir que os melhores atletas da modalidade tivessem condições para correr o circuito de qualificação mundial, que tudo devia ter webcast e que o Special Edition devia ser anual. Tudo é evidente e tudo cai na mesma falha: não há dinheiro, nem para as cantinas nas escolas, nem para campeonatos de bodyboard.

Mas mesmo assim há quem insista e no ano em que, como país, não só fechámos como ainda tivemos de mendigar ajuda para pagar a fechadura da porta, temos três circuitos nacionais - um Open, um feminino e outro de Esperanças. Terão os defeitos que quiserem, mas existem e no final do ano não só teremos meia dúzia de bodyboarders com resultados para mostrar aos patrocinadores como ainda teremos conseguido dar experiência de heats a putos que se estão a preparar para ... insistir.

Quero etapas na Cova do Vapor, nos Supertubos, na Praia do Norte e nos Açores. Quero um webcast em full HD e quero que paguem ao Pinheiro, ao Tó Cardoso e, já agora, ao Paulinho para que eu os possa ver surfar. Quero que um canal de sinal aberto compre o programa da Rita Pires e que o Porkito e o Faustino tenham vidas que lhes permita continuar a fazer pouco de quem continua a achar que só de mota se surfam os gigantes da Praia do Norte. Quero um Mundial da IBA profissional, sem truques de magia na folha dos heats e na pontuação de manobras, quero um webcast como o da ASP, quero, e quero, e quero.

Mas não há dinheiro. É preciso aguentar, lutar para não perder o que se foi conseguindo ao longo dos anos e, sobretudo, parar de apontar falhas a organizações cuja sobrevivência, mais que nunca, só se deve à insistência de meia dúzia de teimosos.  A ti, caro Paulinho, repito: apita que estamos por cá.



Bons Tubos




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