É sabido, o Bodyboard vive traumatizado com o primo surf. Porque é preconceituoso, porque os 'primos' ganham mais dinheiro, porque é mais cool, porque os filmes são melhores, porque a cultura é mais antiga e incomparavelmente mais rica.
Igualmente sabido, é que o Surf sofre cada vez que é um Bodyboard a brilhar. Porque não prestam vassalagem, porque surfam ondas a que nenhum surfista sobreviveria, porque voam mais alto, porque, no limite, são mais rijos.
Um com mais requinte, outro com mais garra. Um com mais exposição, outro bem mais underground. Um com milionários e outro com boas vidas. De um lado, Kelly Slater. Do outro, o Mike Stewart. De um lado, dizem que é mais difícil. Do outro, parecendo fácil, basta lembrar a barraca do Jamie O'Brien em Pipe para ser confrontado com a dura realidade: é preciso arte.
Escolhi sempre ir deitado - meia dúzia de remadas em modo bípede e nada mais - e nunca perdi muito tempo a pensar na escolha. Como espectador a dúvida sempre me pareceu, pura e simplesmente, absurda. Confesso, até hoje não sei desempatar: em Bali, Ben Player ou Rob Machado? em Pipe, Mike Stewart ou o Andy Irons? O Kelly Slater surfa mais bonito que o Ryan Hardy? Pierre Louis Costes ou Dane Reynolds?
E agora, qual preferiam ver? O Pierre a tentar 'pauladas' ou o Reynolds a fazer sabe-se lá o quê à prancha? A escolha é fácil. Ver o Reynolds a fazer stand up seria, certamente, memorável, mas não me parece fácil. Ainda assim, é gratificante saber que no topo, aqueles que são, provavelmente, os dois mais talentosos do Mundo se estão a borrifar para os traumas.
Parece que as ondas irlandesas chegaram à capa da Riptide e eu só tenho um comentário a fazer. Quando é bem feito, o nosso modesto bodyboard é mesmo um desporto do ca ... mandro.
Em quem apostas para ser campeão do Mundo? Nazareno, meu amigo e um dos gajos que mais faz pelo bodyboard cá pelo burgo, respondeu directo: Jared Houston. Reservo-me o direito de achar que o Mark McCharty será o próximo sul-africano a levantar o caneco, mas estava capaz de apostar em como é desta trupe, da que perdeu o Botha para a má vida, que sairão as maiores surpresas desta temporada.
Nos quartos-de-final, Ben Player, Guilherme Tâmega e Jared Houston. Na meia-final, a Player juntara-se-iam o David Winchester e o mano Dave Hubbard. Na final, Mike Stewart e Sam Bennet juntavam-se a Winny para tentar o que ninguém conseguiu: ameaçar Jeff Hubbard.
Mike Stewart, mostrou que em casa o peso da idade se dilui e 'matou' o campeão Pierre Louis Costes nas meias-finais. Winchester confirmou o estatuto de front runner entre a troupe australiana, enquanto um jovem Sam Bennet se apresentou aos grandes. Mas na água, andou sempre um "Assassino Sorridente".
Nos quartos, passou com o melhor Air Reverse do campeonato que lhe valeu o 9.8 - seria um DEZ fosse a nacionalidade outra - e uma onda média - 9.15 - mas viu o Backflip perfeito com que o Player eliminou GT nos últimos segundos e não descansou. Nas meias finais, arrancou com um 9.4, fechou com um 9.9 e tornou tudo mais evidente: não só os juízes não lhe dariam um dez, como na água ninguém o conseguia agarrar. É humano fazer dois heats consecutivos contra o Ben Player, ganhar e sempre com notas acima de 9? A resposta é simples. Não só não é humano, como é evidente que em Pipe perfeito Jeff Hubbard é invencível. Player percebeu-o, conformou-se e já nem surfou na sua meia-final - ficou em branco durante os primeiros 15' e só fez uma onda digna do seu nome.
Na outra meia final, a história foi igualmente simples. Durante todo o campeonato, o PLC surfou e surfou muito, mas os "donos da praia" nunca facilitaram. O francês apareceu confiante e com surf de campeão, mas também ele se despediu em 'combo' face a um Mike Stewart de gala. Na meia-final, assistida entre amigos e na companhia de uma bela garrafa de Famous Grouse, a ideia passou-me pela cabeça: "E se o 'tio' ganhar isto?"
Vindo de um final de época aziago e a tentar afastar a pressão de apresentar resultados, Hubbard voltou a provar que é mesmo de uma raça à parte. Contra os juízes, sempre contra os juízes, na final fez a sua onda mais fraca - um nove - e outra média - um 9.65 -, mais que suficientes para fechar o campeonato com o segundo classificado na célebre Terra do Combo.
Se Mike Stewart surpreendeu ao voltar a mostrar que nem só de complexas acrobacias se faz Bodyboard de luxo - uma lição para os que forçam cambalhotas -, se o Pierre mostrou surf mais que suficiente para acabar a época na mesma posição em que chegou a Pipe e se o Winchester se afirmou como o "last aussie standing", foi Hubbard quem deixou o mais sério aviso. Aos 36 anos, sabe que não terá muito mais temporadas para tentar o que há muito lhe é devido: o terceiro caneco, o título que o afastará definitivamente dos outros "bi-campeões" do nosso desporto e que o colocará no clube de Stewart e Tâmega.
Por mim, assim os webcasts da IBA o permitam, ficarei deste lado a torcer pelo melhor bodyboarder do Mundo na luta contra adversários e contra os juízes que não foram capazes de dar um dez ao bodyboarder que, no melhor campeonato que se fez em Pipeline desde 1994 (palavra de Kainoa McGee), desfez a concorrência com requinte de Assassino Sorridente.
Fossem dele, os amigos do Dino Carmo e ontem a frase do dia em Pipeline teria sido: "XAU PRIMO!"
Enquanto não chega o vídeo da final, fica o segundo dia.
Quero ver o Pierre responder a um lip de Pipeline com um backflip. Quero ver o Ben Player aterrar um daqueles air reverse que só ele sabe encaixar. Quero ver o Hugo Pinheiro sair de um tubo nota dez. Quero ver bodyboard no seu estado mais puro - o Mike Stewart a passear por Pipeline perfeito. Quero ver o Hubbard cumprir a tradição - ganhar.
Basta ler as entrelinhas. Como um senhor, aceitou a derrota para um Pierre Louis Costes 'on fire'. E no final da festa, retirou-se para casa. Reapareceu na semana passada com um air reverse assustador. Dezanove segundos de bodyboard que ninguém viu só uma vez. Hoje apareceu de sorriso estampado na cara. O sorriso de quem sabe o que o espera. Amanhã, "O Bardo" toca no seu anfiteatro e com a orquestra em dia de especial afinação.
Hoje já vi o Alistar Taylor, literalmente, partir a loiça toda. Um heat que fez o Many Vargas sugerir que se fizesse uma colecta para levar o sul africano a todas as etapas do Mundial ... Hoje, dizem-me que já perdi o Ormerod a brilhar. Hoje já vi um dos vencedores dos dia reconhecer "medo" das ondas que o esperam. Hoje já as vi absolutamente perfeitas.
"Pois pá, mas agora tenho de surfar Pipe..." Uma missão capaz de atemorizar qualquer graúdo. Uma ideia impossível para quem ainda só completou 12 primaveras.
Há uma coisa que sei, vou ficar do lado de cá a torcer para ver este puto passe o primeiro heat. Já perguntaram a opinião aos pais?
Devia estar a trabalhar quando o Mr Charles me mostrou o video. O segundo dia de trials para Pipe e a dúvida se a tugaria estava ou não em jogo. Confesso que mal vi o video, mas uma manobra ficou na memória. Nem identifiquei o movimento nem quem o aterrou, mas a escola da 'casa' era evidente.
O news flash não tardou - já vos disse que tenho acesso à melhor fonte de informação de Bodyboard nacional? - e pouco depois já o Mr Charles tinha o BI completo. Tanner McDaniel, havaiano de 12 anos.
Tenham cuidado com o invert do Sacha Speker aos 1'50, mas esperem pelos 2'20. A apresentação ao Mundo da manobra que o autor baptizou de "Angry Dragon". "Its like a reverse backflip", explicou à IBA.
O dilema do Mr Charles é se deixam o miúdo entrar em Pipeline com as melhores previsões dos últimos anos. O meu é outro. Quem será capaz de ganhar um Mundial que de véspera apresenta uma manobra nova?
Os meus front runners.
- Pierre Louis Costes. Ser campeão não deixa ninguém indiferente. Se chegar ao topo é digno de registo, dobrar o feito é mesmo para uma raça à parte. King, Player e Hubbard, três bi-campeões, três estilos de bodyboard identificáveis à distância, três monstros. E nesta altura já não duvido que o PLC veio para se fazer monstro. Bonito era. O primeiro bi-campeão europeu.
- David Winchester. Não é fácil ganhar destaque entre a troupe aussie. Se é certo que aparecem verdinhos e espalhafatosos é igualmente garantido que tendem a desaparecer - o Novy não está no top 24, não devia aparecer nos trials? - e chegar ao topo da hierarquia é tão duro como ser campeão mundial. In my book, no ano passado o Winny conseguiu-o. Este ano quero ver mais.
- Jeff Hubbard. A persistência é um dom tão precioso quanto a capacidade absurda de voar. Nos últimos anos nunca se deixou ficar longe do Caneco, mas o final do ano passado foi agressivo. Teve o pássaro na mão e ... deixou de voar. Há uns dias, com um reverse air monstruoso, já colocou a net em alvoroço e é certo que se aparecer de faca nos dentes dificilmente alguém o segura. Next move?
- Ben Player. Enquanto surfar assim, o título será sempre dele para perder.
A promessa de Leste até já foi feita, mas faltam longas horas para o toque a reunir da equipa. A surfada de Sábado.
Quando a ressaca aperta, nos dias em que não dá para deixar de pensar em tubos perfeitos, um passeio pela net ajuda. Hoje, graças aos amigos do Dino do Carmo, consegui prever a banda sonora. É assim que os amigos celebram as ondas da "equipa". Na minha, o problema é que não quem surfe assim.
"Xau Primo. Não és o meu Super Herói, mas amanhã estás fodido primo.". Épico. Uma onda nota dez, celebrada como mandam as regras das grandes equipas. Um grande abraço
Será o ano da confirmação do IBA World Tour como uma competição de nível internacional e os ingredientes voltam a estar todos alinhados.
Havai, Austrália, Brasil, Portugal, Canárias, Puerto Rico e México. Pipe, Box e Frontón serão as vitórias mais desejadas; Itacoatiara será a oportunidade dourada para a turma brasileira mostrar que pode brilhar em ondas grandes; Sintra será Sintra.
É cedo e sobretudo falta informação para uma aposta segura. Será que o PLC se vai deixar contagiar pelo fenómeno Amaury? Ou será que arranca em definitivo para o que muitos tomam como inevitável - uma era de domínio? A minha aposta? Acaba seguramente nos três primeiros. Não é favorito?
De "véspera", tanto o Tâmega como o Hubbard são incógnitas, mas dois nomes capazes de vencer qualquer etapa. Duvido que o Player acorde, mas sei que vai voltar a ser campeão do Mundo. E suspeito que este será o ano em que um dos underdogs chega, definitivamente, ao topo. Será este o ano em que o Mark McCharty ganha o seu primeiro Grand Slam? No meio de toda esta aritmética, três australianos, Hardy, Winchester e Rawlins. Será que o Hardy lhe tomou o gosto e vai buscar o que há muito lhe é devido? O Winchester vai continuar a ser o bodyboarder com o melhor surf do tour? E haverá alguma novidade no Top 24 mais assustadora que o Rawlins?
Não vejo favoritos, mas deixo-vos três cenários. O PLC rouba a alcunha ao Paul Pierce, The Truth, e carimba o segundo com um backflip sem mãos. Também pode ganhar um dos manos do "Surfa bonito", Winny ou Hardy. E cuidado, porque não é preciso muito para que Itacoatiara seja o pequeno boost que a turma brasileira precisa para meter mais um nome na lista de campeões do Mundo.
Ora vamos lá evitar teorias da conspiração. A verdade é que quando o produto é bom, os tubarões não têm outra alternativa que não seja vir trincar um pedaço.
Este ano, passámos a ter um Campeonato do Mundo digno desse nome, com ondas e, quis o destino, um vencedor com um potencial de marketing quase inédito na nossa história. Coincidência ou não, a Rip Curl lançou um vídeo a assinalar o feito ... Querem ver que o trabalho bem planeado compensa mais que as lamúrias do costume?
Por favor alguém me desminta. Mas nos vídeos que a IBA foi lançando desde o fim da época há um gajo que ainda não vi em lado nenhum. Pelas contas que faço, esteve na luta pelo título até ao final, tem seis títulos mundiais outros tantos segundos lugares e um dos (o?) momentos mais impressionantes da temporada. Basta ver o vídeo em baixo para perceber que a exigÊncia em 2012 vai ser grande, mas cadê o Tamega?
Reza a lenda que no início do século passado o Robert Johnson teve de fazer um pacto com o diabo para conseguir fazer aquelas que hoje são consideradas as primeiras gravações de Blues. Sempre que sai um video novo, a minha dúvida é a mesma: o Ben Player assinou o pacto com quem?
